Newsletter #32
"A arte é uma forma de louvor. É uma das maneiras pelas quais nós, seres humanos, podemos refletir a glória do nosso Criador." Francis A. Schaeffer
Recentemente, numa visita à casa de um amigo (desses que a gente adora, mas que vivem nos surpreendendo), recebi de presente uma Bíblia. "Ah, mais uma Bíblia reformada pra coleção", pensei eu, já imaginando mais um calhamaço para a estante. Mas essa aqui, meus amigos, era a Bíblia de Estudo da Reforma e tinha um "quê" que me chamou a atenção, algo que me aproxima mais dos luteranos do que da maioria dos reformados: ARTE!
Sim, arte! Se você me conhece, sabe que sou fã de Gustav Doré e um verdadeiro apreciador de gravuras com volume, sombra e aquele acabamento que a gente só encontra em obras-primas. E foi exatamente isso que encontrei na introdução de cada livro da Bíblia: umas gravuras tão interessantes que, juro, até esqueci que estava ali pra estudar!
Mas a surpresa maior veio quando fui ler a breve explicação sobre as gravuras. Foi lá que descobri a tal da Irmandade de São Lucas (ou Lukasbund, se você for chique e falar alemão) e o Movimento Nazareno. Eles eram tipo os "alternativos" da arte da época, fascinados pela arte medieval e renascentista, e foram uma baita influência para os Pré-Rafaelitas. Sério, a história desses artistas é pura inspiração para quem, como nós, artistas cristãos contemporâneos, busca expressar a fé de um jeito visual e impactante.
Então, bora aprofundar um pouco mais nessa galera, com umas informações que garimpei por aí:
A Irmandade de São Lucas (Movimento Nazareno): Uma Busca pela Arte Cristã Autêntica (e um visual meio diferentão!)
Pensa em um grupo de artistas alemães e austríacos que, no início do século XIX, em Viena e depois em Roma, resolveram chutar o balde do que era considerado "arte de verdade". Esse era o Movimento Nazareno. E o nome "Nazarenos"? Ah, era tipo um apelido carinhoso (só que não!) que a galera deu pra eles por causa do visual: cabelos longos, barbas... pareciam saídos direto das páginas da Bíblia!
A Irmandade de São Lucas, ou Nazarenos, rejeitava o estilo artístico da época e buscava inspiração na arte medieval e renascentista, especialmente em temas religiosos. Um dos caras mais famosos desse movimento foi Julius Schnorr von Carolsfeld, o mestre das ilustrações bíblicas. E não é que esses caras influenciaram outros grupos, tipo os Pré-Rafaelitas na Inglaterra? É a prova de que ser "do contra" às vezes dá frutos!
É uma história curiosa, que reflete um período na Europa onde a galera estava em uma intensa "crise de fé" (artística, no caso!).
"A arte, quando usada para a glória de Deus, é uma ferramenta poderosa para despertar a imaginação e nos fazer contemplar a beleza do Evangelho."
Fonte: Arte e Fé: Um Diálogo Espiritual (título original: Art and Faith: A Theology of Making)
Origem e Princípios: A Rebelião dos Pincéis em 1809
Em 1809, seis estudantes da Academia de Belas Artes de Viena, que estavam de saco cheio do academicismo e do neoclassicismo (pra eles, era tipo a arte "sem sal" da época), resolveram montar sua própria cooperativa artística. O nome? Irmandade de São Lucas (Lukasbund). Era uma homenagem às antigas guildas de pintores medievais, que tinham São Lucas Evangelista como patrono (dizem que ele foi o autor do primeiro ícone da Virgem Maria, o que já dá um toque especial, né?).
Os princípios dessa turma eram bem claros (e um tanto rebeldes):
Rejeição ao Academicismo: Pra eles, a arte da época era fria, intelectual demais e sem espiritualidade. Tipo, cadê a emoção, gente?
Retorno aos Mestres Antigos: Eles buscavam inspiração na arte medieval alemã e italiana do início do Renascimento (especialmente antes de Rafael). Queriam reviver a piedade e a honestidade na arte, que eles sentiam ter sido completamente perdida.
Foco em Temas Religiosos: A arte nazarena era quase um sermão visual. Eles se dedicavam a temas bíblicos, histórias de santos e tudo que remetesse ao cristianismo, pra restaurar a espiritualidade e a moralidade na pintura.
Espiritualidade e Comunidade: Essa parte é show! Eles viviam em uma espécie de "confraria monástica" em Roma, tipo uma república de artistas, especialmente no Mosteiro de San Isidoro. Buscavam uma vida de devoção e simplicidade, inspirados nos mosteiros medievais.
Simplicidade e Sinceridade: Nada de grandiosidade e dramaticidade do barroco e rococó. Pra eles, o que importava era a sinceridade da expressão e a simplicidade formal. Tipo, "menos é mais", só que com um toque divino.
Membros Notáveis e Obras: Os Astros da Arte com Barba
Os fundadores e membros mais proeminentes dessa "boy band" da arte incluíam:
Friedrich Overbeck (1789-1869): O líder espiritual da galera, o cara que dava a palavra final. Ficou em Roma a vida toda e foi o mais fiel aos ideais originais. Suas obras são tão religiosas que você quase sente a aura.
Franz Pforr (1788-1812): Juntamente com Overbeck, foi um dos pilares da fundação. Morreu cedo, coitado, e foi uma perda e tanto para o movimento.
Peter von Cornelius (1783-1867): Embora tenha se desviado um pouco dos ideais puristas depois, teve um papel importante no começo e se jogou em grandes afrescos religiosos.
Philipp Veit (1793-1877): Um faz-tudo da arte, envolvido em vários projetos de afrescos e pinturas de altar.
Julius Schnorr von Carolsfeld (1794-1872): Epa! Esse é o artista que eu mencionei lá no começo, o cara das gravuras da minha Bíblia! Ele se juntou à Irmandade de São Lucas em 1818. Schnorr von Carolsfeld é um gênio das ilustrações bíblicas, aquelas que são incrivelmente detalhadas e expressivas, muitas delas publicadas na sua famosa "Bíblia Ilustrada" (Bilderbibel). As gravuras dele para a Bíblia de Lutero, como eu vi, são um verdadeiro atestado do seu talento e da sua dedicação aos temas religiosos. E essa cara de maludo deixa tudo mais interessante.
As obras dos Nazarenos eram tipo um colírio para os olhos: linhas nítidas, cores suaves e um estilo que lembrava pintores como Perugino e o jovem Rafael. Eles focavam na narrativa clara e no sentimento religioso. E não é que eles mandaram ver em vários afrescos em igrejas e prédios públicos em Roma e na Alemanha, restaurando a tradição da pintura monumental? Que moral!
As pessoas amam arte, amam o que é belo e isso abre portas.
Influência e Legado: A Arte que Resiste ao Tempo (e às Modas!)
Mesmo com o grupo original tendo se dissolvido lá por 1830 (quando muitos deles voltaram pra Alemanha), o Movimento Nazareno deixou sua marca na arte europeia, especialmente no Romantismo alemão e, claro, no movimento dos Pré-Rafaelitas na Inglaterra.
Os Pré-Rafaelitas, que surgiram em 1848 (quando a bagunça já estava armada!), eram fãs de carteirinha da busca nazarena por uma arte mais sincera e espiritualmente motivada. Eles achavam que a arte "pós-Rafael" era uma "corrupção" (exagerados, né? Olha eu aqui kkk). Também rejeitavam as convenções acadêmicas e buscavam uma nova vitalidade na arte, com temas medievais e religiosos, e uma atenção meticulosa aos detalhes e cores vibrantes. Tipo, uma galera que levava a sério cada pincelada!
É fascinante ver como a fé cristã tem sido uma verdadeira mola propulsora para a criação artística ao longo dos séculos, não é mesmo? A dedicação desses artistas em expressar a beleza e a verdade de Deus através dos seus pincéis é um exemplo poderosíssimo para nós hoje.
Claro que, no meu dia a dia secular, eu me municio de ferramentas digitais pra criar, mas essa forma de comunicar a fé, mesmo que adaptada para o nosso contexto atual, também agrega um valor imenso ao Reino de Deus nos nossos dias.
Ecumenismo Artístico: Quando a Arte Uniu o Católico e o Protestante (Tipo Casamento, Só que com Tinta!)
Os artistas do Movimento Nazareno não eram todos da mesma "igreja", não! O grupo era uma mistura de católicos e protestantes que, em um espírito de unidade cristã e renovação artística, colaboravam em seus projetos. O foco deles estava na arte religiosa e na espiritualidade cristã universal, mais do que nas divisões confessionais da época. Eu sei que muitos agora estão torcendo o nariz. Te acalma.
É importante notar que alguns dos membros mais proeminentes, como Friedrich Overbeck, inicialmente protestante, converteram-se ao catolicismo após se mudarem para Roma, onde a maioria dos membros do grupo residia em um antigo mosteiro. Essa conversão era motivada por uma profunda busca pela raiz da fé cristã e pela arte que eles tanto admiravam (a arte pré-Rafaelita, que estava fortemente ligada ao catolicismo medieval e do início do Renascimento).
Existe um ponto aqui para ser dito, deste sempre o artista precisava ser financiado, ao que me parece, esses artistas alinharam a fé e as circunstâncias favoráveis para ter tempo e recursos para se dedicar a arte e também conseguir comer, beber e vestir.
No entanto, outros membros, como Julius Schnorr von Carolsfeld (o brabo), que é amplamente conhecido por suas ilustrações bíblicas, permaneceram luteranos (protestantes). Mesmo assim, ele manteve uma visão ampla e não sectária em sua arte, o que permitiu que suas obras fossem apreciadas por diversas denominações.
Essa mistura de credos demonstra a intensidade da busca espiritual e artística que unia esses homens. Eles queriam transcender as divisões teológicas da Reforma e Contrarreforma para criar uma arte que pudesse expressar uma fé cristã comum, pura e sincera, inspirada nos mestres antigos. Para eles, a arte era um veículo para a devoção e a verdade espiritual, e essa visão era mais forte do que as diferenças denominacionais. Penso que há algum mérito nisso.
Esse movimento foi um belo exemplo de como a arte pode unir pessoas com diferentes origens de fé em um propósito comum, não acha? Isso me lembra um pouco o que o apóstolo Paulo diz em Filipenses 1:18, sobre Cristo sendo pregado de qualquer modo, seja por pretexto ou de verdade, e que o importante é a proclamação do Evangelho. No caso dos Nazarenos, o importante era a arte a serviço de uma fé profunda.
Augusto Marques
Criador da PictoBíblia (siga nas redes sociais)












